Uma luz para se livrar das trevas

Uma luz para se livrar das trevas

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Foto: Divulgação

Nesta quarta-feira, um grande evento marcou a partida entre Guarani e Ceará por mais uma rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. O icônico de septuagenário estádio Brinco de Ouro da Princesa recebeu um show com DJ, os torcedores foram convocados e quem esteve presente pode ser parte interativa das festividades com o show de luzes que foi apresentado. A ocasião? A inauguração de novos refletores.

Sim, a nova iluminação do campo do Guarani ganhou ares de apresentação oficial de uma contratação internacional, com a euforia de uma torcida que colocou 10,5 mil pessoas ávida para conhecer a novidade.

Mobilização, entusiasmo e euforia por lâmpadas Led instaladas, mas o fato carrega uma simbologia que transforma uma situação comum em esperança por dias melhores. E qualquer um que ama futebol sabe as agruras que a família bugrina passou neste século.

A ideia de uma melhoria contundente na estrutura era inimaginável até a metade da década passada. Os mais otimistas apenas escondiam, mas sentiam o mesmo temor de que a delicada situação financeira e organizacional estava levando ao fim das atividades do único campeão brasileiro do interior.

Os fracassos e humilhações eram rotineiros. Jogadores sem receber, possíveis revelações indo embora, sem referências dentro e fora do campo. Rebaixamentos sequenciais e a visível e triste deterioração institucional.

Guarani virou motivo de deboche e a fé, mas não o amor, do bugrino foi minguando com desmandos e tratativas escusas quando algum lampejo ocorria.

Lembre-se, chegamos a ter urnas para doações financeiras na entrada das arquibancadas, bilheteria confiscada, energia cortada, dirigentes com maletas de dinheiro vivo para quitar parte de salários de atletas e funcionários, esses tão ou mais resilientes que torcedores.

Foram anos de trevas. Um clube mergulhado e aprofundado em uma crise desesperadora. A venda de patrimônio era tida com a única solução para um clube quebrado e cheio de dívidas em várias áreas.

Sempre tinha um parceiro, sempre tinha um empreendedor, sempre tinha um projeto, mas, de fato, nada acontecia. Quando o time começa a dar sinais de que ia fracassar mais uma vez, a venda do estádio era a carta na manga para mudar o foco das manchetes. Quantas vezes isso aconteceu? Incontáveis.

Até que aconteceu o inimaginável: o Brinco de Ouro foi leiloado. A partir daí, dirigentes perderam o último argumento que sobrava. E foi nesse momento de morte iminente que o Guarani passou a respirar.

Movimentos de torcedores se organizaram e passaram acompanhar mais de perto, internamente, a gestão da agremiação. Grupos antagônicos se formaram e batalhas foram travadas nos piores momentos. Um clube que era uma instituição praticamente autocrática, passou a conviver com vertentes diferentes nas esferas de poder. E como isso foi salutar (e continua sendo).

O leilão foi refeito, mas em termos acordados com a Justiça Trabalhista que salvaguardavam a instituição Guarani e para quem o clube estava devendo. Os termos foram definidos de uma maneira a quitar os débitos e garantir uma nova casa aos bugrinos.

Uma nova mentalidade foi institucionalizada. A gestão precisa procurar a excelência para resgatar credibilidade. Eu costumo falar que credibilidade é tal qual a construção de um prédio: leva anos. A perda é tão rápida como uma implosão e sobram só destroços.

O Guarani foi retirando pedregulhos, limpando a área e construindo uma nova base sólida para, enfim, ter os alicerces para se reerguer. E o processo ainda está em andamento e segue longo, porém, hoje, é um clube que honra compromissos – com elenco, funcionários e judiciais – e voltou a contar com a confiabilidade do mundo de futebol. A instituição início um plano de recuperação judicial e a gestão é aferida por ferramentas externas.

Eu, sinceramente, não acreditava que o resgate fosse possível. Minha fé minguava e ainda hoje sou reticente, afinal o sofrimento forjou uma carapaça. Mas, sim, estou mais confiante, pois os avanços estruturais, antes improváveis (para não falar impossíveis) aconteceram: Centro de Treinamento para Base, gramado irretocável, manutenção do estádio, permanência da base de jogadores, chegada de profissionais com qualidade e a formação de referências.

Por isso, eu volto à simbologia. A nova iluminação é mais um passo, mas que marca uma luz para o caminho para um ressurgimento digno do clube que destronou gigantes do futebol brasileiro, enfrentou poderosas equipes entre os anos de 1970 a 2000 e as destroçou e pode bater no peito e apontar a estrela mais brilhante no escudo: a de campeão brasileiro.

A festa das Luzes reflete o brilho, outrora apagado, mas que dá mostras que vai se intensificar das grande estrela do cenário futebolístico nacional.

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